Mãos

Agarras-me as mãos como se delas dependesse todo o teu ser.

Mãos âncora. Porto seguro. Fortaleza capaz de te proteger de qualquer investida.

Eu seguro as tuas. Acaricio-as com gestos lentos e ternos como quem diz "está tudo bem".

Mas não está.

A noite torna-se dia e ficamos assim, em silêncio, olhos nos olhos.

Conversando numa linguagem sem nome nem sons mas que ambas entendemos.

A noite que fica dia torna-se numa tarde de verão.

Quente. Ofegante. Tu choras e eu desespero.

Agora sou eu quem te agarra nas mãos.

Preciso delas para ganhar forças para te ver assim, apática, a sofrer.

Impotente.

Coração nas mãos.

Nas tuas.

Nas de Deus.

As minhas não conseguem aliviar-te a dor.

As minhas agarram as tuas e aninham-se em jeito de prece.

Oração para te pôr boa.

Melhora depressa, meu amor...