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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Poesis

Foto de coreografia de Mauro Bigonzetti


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus
De Eugénio de Andrade

1 comentários:

Lux Lisbon disse...

É "só" um dos meus poemas favoritos desde que o li pela primeira vez quando tinha 13 anos!!!!!