Carta à minha vida

Querida filha,

Hoje, como todos os dias, escrevo-te mais uma carta. Esta só é diferente porque, pela primeira vez, outros olhos que não apenas os teus vão ler estas linhas.

Sabes que desde que a mãe soube que tinha um feijão na barriga ( que eras tu), todos os dias passaram a ser especiais. Passaste a ser o centro do meu mundo e tudo o resto apenas satélites insignificantes que gravitam na e pela minha vida.

A minha vida que passaste a ser tu, tu sabes.

Durante 9 longos meses viveste dentro de mim. Começaste por ser coração, depois migalha, mais tarde uma borboleta na barriga que me fazia muitas cócegas até, por fim, seres quase só pés e mãos, a bater contra a minha pele como que a dizeres que a crisálida já não te chegava.

E foi assim que, há um ano atrás, decidiste que era um bom dia para nasceres. Que estava na hora de abandonares o quentinho do meu corpo, o aconchego do líquido amniótico. Não sem antes de me pregares a partida de me fazeres esperar quase um dia inteiro para te ver...

Por esta hora, enquanto te escrevo, ainda estava eu ali, deitada, de mãos dadas com o teu pai, a ouvir o som mais bonito do mundo. O do teu coração.

Nasceste na primeira hora do dia 26. Linda. De olhos bem abertos para o mundo. Comigo desfeita em lágrimas e sorrisos. A beijar-te e a dar-te as boas vindas a esta aventura que se chama vida.

Aquele foi o primeiro dia de felicidade plena. Todos os restantes, até hoje, têm sido assim. Abençoados. A ver-te crescer, sorrir, gatinhar, a encheres-me de uma espécie de beijinhos, a agrarrares-me na mão e eu sentir que sabes que te amo. Que nunca deixarei que nada nem ninguém te magoe.

A vida é mesmo um milagre...mesmo que o meu coração tenha deixado de bater dentro de mim para estar sempre junto a ti.

Um beijinho do tamanho do mundo da tua, sempre e para sempre tua mãe.

AMO-TE!