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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Divagação/divulgação cultural

Se houve coisa que eu verdadeiramente sempre quis ser foi bailarina. Bem sei que eu e todas as meninas do mundo. Mas acho que nunca foi por causa dos "tutús" rosa nem das fitas no cabelo...
Queria ser bailarina porque acho que os bailarinos fazem magia com a ponta dos pés.

Tive a sorte de crescer numa família de artistas. De ter um pai músico na Gulbenkian que, depois de me apanhar na creche, me levava aos estúdios de ensaios do saudoso e extinto Ballet Gulbenkian, onde passava horas a ver a plasticidade dos corpos, as gotas de suor que caíam dos cabelos dos bailarinos a cada movimento, a elasticidade das senhoras pequeninas e muito magrinhas que, depois de cada coreografia, calçavam grossas meias de lã para proteger os preciosos pés.

Cresci a ver "nascer" quase todas as coreografias dos últimos 30 anos. Não perdi estreia de nenhuma temporada. Convenci muitos cépticos a assistirem a um bailado. Consegui fazer que quase todos voltassem...

O pai inscreveu-me numa das melhores escolas de Lisboa. Era mesmo como nos filmes. Nós, as "ratinhas", carinhosamente assim chamavam às mais novas, todas alinhadas na barra, vestidas de preto e meias rosa, sapatilha de meia ponta. Tentando elevar a perna, esticar aquele tendão, em busca de uma pretensa graciosidade quando o corpo já dava sinais de dor e desgaste. A professora com uma bengala a marcar o compasso. "Pliê"!!! Deve ter sido a palavra que mais ouvia porque ainda hoje me recordo da exacta entoação com que era dita.

A caixa do "pózinho branco" à entrada do soalho de madeira. O piano de cauda e a senhora que nele tocava pequenas peças para musicar os movimentos. Foram alguns anos assim. A sonhar ser bailarina. Ainda prestei provas no Conservatório mas acho que a ideia de esfolar os joelhos na tarde anterior, pedalando desalmada e descontroladamente, por um caminho de terra batida, não me ajudou muito.

Fui excluída e nem sequer me dei ao direito de ter uma segunda oportunidade. Mas estive sempre por perto, no escuro da plateia, de olhos arregalados a sorver cada gesto.

Felizmente fui mais bem sucedida na minha segunda escolha profissional que, curiosamente, me leva muitas vezes ao sonho antigo. Continuo a não perder bons espectáculos de dança, vou aos ensaios e, sorte das sortes, tenho sempre o privilégio de poder conversar com os coreógrafos.

A Companhia Nacional de Bailado tem feito um excelente trabalho. Os bailarinos são fantásticos e de uma versatilidade incrível. Desde repertório clássico até ao contemporâneo, dançam tudo e dançam muito bem. A Agustina Bessa-Luís disse tudo numa só frase: "Um bailado da CNB vale por muitas missas". Eu subscrevo. E recomendo a quem nunca viu.

E isto serviu de introdução para vos apresentar um dos meus coreógrafos favoritos: O Sr. Mauro Bigonzetti que faz coisas lindas de morrer. A mim apetece-me sempre que aqueles momentos de palco não acabem nunca. Muito poético, muito físico, muito à flor da pele, muito tudo!

Só para dizer que, se puderem, não percam a Cantata que ele traz a Portugal, bem como, a estreia de Vasco Wellemcamp (um pas-de-deux maravilhoso) que fecha com uma peça de Enrri Oguike. São 3 estreias em 1 e todas valem muito a pena!!!

E porque hoje me deu para isto, aqui vos deixo algumas dos MILHARES de imagens que vou guardando das coreografias de Bigonzetti. Só para vos abrir o apetite. Espero que gostem :)






PS - Estas duas últimas são de Cantata que está no Teatro Camões, no Parque nas Nações. Vale mesmo muito a pena até porque os bailarinos cantam em palco.
Para quem nunca assistiu a um bailado, gostaria de citar a célebre frase dessa não menos célebre Sra, Alcina Lameiras: "Não negue à partida uma ciência que desconhece"

6 comentários:

Paula disse...

Deve ser realmente lindo!
:)
Bjs!

Lux Lisbon disse...

MAMYYY!!!! Já tenho pc de novo!!
eheheh

Pequenina disse...

Que giro... Há uns bons 7 anos também entrevistei o sr. Mauro Bingonzetti, uma simpatia, sem ar nenhum de vedeta, e com quem tagarelei alegremente em italiano, inglês, francês e português, apesar de ser uma humilde ignorante sobre a arte dele.
E lá tirámos fotos na Av. da Liberdade, dele a saltar e a fazer piruetas, para ilustrar uma entrevista de uma estagiária a arranhar skills de jornalista e a fingir que percebia da arte da Dança Moderna.

Longe vão os meus tempos de estreias, ensaios e conferências de imprensa e de uma redacção de Artes :)

P.S: Adorei o post sobre Paris e as fotos!!!

A Mãe disse...

Miss V!!!
Há quanto tempo! Já tinha saudades! Bem vinda :)

Joaninha a voar disse...

É linda a maneira como te descreves quando vês um bailado.
Acho que nos fizeste, a todos, dançar um pouco.

Fractal SMOG disse...

Quando trabalhava num dos semanários de Leiria, eles patrocinavam uma semana de artes... E eu escolhia sempre ver a Gulbenkian, com uma amiga minha que é bailarina e professora de dança...

Trouxeste-me as memórias dos nossos espectáculos partilhados; das minhas lágrimas de espanto e da emoção da minha amiga perante as mesmas...

Que feliz que fui, e sou, a reviver tudo isto!!

Um beijinho grande!