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segunda-feira, 21 de abril de 2008

Aldeã Suburbana

Há já algumas noites, sempre que fumo o último cigarrinho do dia, que me deparo com o voo picado de um vulto de asas enormes, que faz sempre a mesma trajectória, até ganhar alguma nitidez e poisar, altivo, na rede do terceiro quintal abaixo da minha casa.

Da primeira vez que a vi fiquei estupefacta. Uma coruja na cidade? Ainda por cima grande como tudo? Calculei que tivesse fugido do zoo ou de outra gaiola qualquer e, sem me mexer, fiquei a observá-la à luz da noite. Penas brancas no rosto, asa branca no interior. Enorme!
Sou uma pessoa de rotinas. E todas as noites, por volta da mesma hora, lá vou à janela matar o vício de sempre. E todas as noitas a vejo chegar e partir para a tornar a encontrar na noite seguinte. Parece que esta coruja também tem os seus hábitos...

Ontem à noite, ao vê-la, dei por mim a pensar o que faria ela por aquelas bandas. Mas a resposta afinal até não era assim tão difícil de encontrar. A verdade é que, apesar de viver nos subúrbios, vivo numa aldeia! FREGUESIA!!! Reclamam alguns. Parece que é mais fino! Como se, de repente, ser aldeão fosse uma coisa depreciativa!

Pois eu cá adoro o facto viver na ALDEIA!!! Apesar de num prédio, tenho a felicidade de ter mato cerrado à frente de casa. Acho que é por isso que a coruja ali poisa todas as noites.

Na minha aldeia não há selvas de betão nem edifícios de mil andares a vomitarem gente. Somos poucos e todos nos conhecemos. Acreditam que conheço todas as pessoas do meu prédio? Sei em que andar moram, como se chamam, o que fazem, quantos filhos têm...

Todos nos cumprimentamos de manhã, seguramos a porta à tarde, para quem vem carregado de compras, não há faltas de educação nem portas fechadas na cara à má fila...

A senhora do café chama-se D.Céu e adora a minha filha. Dá-lhe pão todos os dias. E depois temos o mercado, o lugar onde mais gosto de ir e de estar, na minha aldeia. Há fruta e legumes frescos bem alinhados todos os dias pela Paula e pela mãe que estão mesmo ao lado da senhora da florista que largou o emprego de secretária de uma grande empresa para se dedicar ao sonho de viver no meio das flores.

Há a D.Deolinda, dona do cabeleireiro, que sempre que levo a Ema, me faz o favor de passear com ela na banca das frutas enquanto a Rute me arranja o cabelo e a Cristina, aspirante a cabeleireira, me conta os pormenores, cada vez mais requintados, da prova final de curso.

Também há um café que é da D.Glória, a simpatia em pessoa, avó babada de uma neta da idade da minha filha. Andamos sempre em longas conversas e conselhos mútuos sob o olhar enternecedor do muito educado Sr. Alberto que, assim que me vê entrar, pergunta logo se é "o do costume".

Do outro lado da estrada há um parque infantil e um centro de dia para idosos. Logo a seguir, a pequena igreja cujo tocar do sino a cada hora e meias horas, me vão guiando em casa. Nunca preciso de olhar para o relógio. Basta contar as badaladas ou ouvir o Avé Maria que me diz que já são 6 da tarde.


A partir das 8 da noite o sino cala-se. É sinal que a noite se aproxima.

Da minha janela, vejo a lua nascer e subir até ao alto do céu. E é por volta dessa hora que a minha coruja chega. Não preciso do sino para me dizer que a meia-noite chegou. Vem o vulto em voo apressado para acalmar no terceiro quintal abaixo da minha casa.

E eu olho para ela, para as estrelas, para as luzes da confusão suburbana lá ao fundo, respiro o ar da noite que cheira a flores do campo, lembro-me das pessoas que habitam neste meu mundinho e dou graças por ser uma aldeã suburbana!

E agora vão achar que estou a inventar...mas a verdade é que a minha aldeia fica mesmo ao lado no IC19!!! Dá para acreditar?

PS - Ando a pensar dar nome à dita...alguém tem sugestões?

5 comentários:

Lux Lisbon disse...

adoro corujas!!! ;)

Paula disse...

Mais uma coisa em comum Mammy:uma coruja!
Em frente à minha casa, não há mato mas há o rio Tejo!
E um parque ribeirinho enorme!
E uma coruja que passa em frente à minha varanda da sala!
Com uns quantos morceguitos a fazer-lhe companhia, de vez em quando!
Vê lá que há uns tempos atrás, ouvi um barulho na sala. Era um pica-pau na varanda, a bicar o vidro!
Adoro viver aqui!
Quanto a nomes...
Hum... Que tal Luana? Ou Luazinha? Vem de lua, ela aparece à noite!
:)
Bjs!

Anónimo disse...

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Celular, I hope you enjoy. The address is http://telefone-celular-brasil.blogspot.com. A hug.

Fractal SMOG disse...

E que tal Smokie?
É branca, como o fumo do teu cigarro em contraste com a noite...
Se bem me lembro, é assim que fica o fumo quando fumamos às escuras... E, ainda não acabaste o teu "fumo" quando ela se "esfuma" na noite... na vossa noite!

Anónimo disse...

Ora vejamos!
Entrei no Blog da Maria Joao Franco e, vai daí deparei com o nome Filipa Faria. Que bom! Pela escrita e coorelacção com a Cultura, só pode ser a Jóiinha da Filipa da TVI. Será?... Por uma razão superior. Tenho algumas fotos suas de qd grávida da sua QUERIDA FILHINHA aquando da minha exposição no MAC e tb do aniversário. Espero estar certo e passar-lhe o meu blog ond se encontra. Peço-lhe Filipa que me contacte ou pela Maria João. Então:
www.joaoabreum.blogspot.com
Mande-me o email que remeter-lhe-ei as fotos.
Parabéns pelo blog e um comentário. Filipa prevejo em si uma carreira como escritora. Escreve lindamende num estilo descritivo naturalista. Voto em si e auguro sucesso na sua Vida profissional e Familiar, com um Sagrado beijo para sua FILHINHA.
Do João Abreu