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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Notícias do passado

Encontrávamo-nos sempre no Verão. Quando as aulas acabavam e os pais ainda trabalhavam. Cheirava a mar, a aventura, a dias longe de casa, a trocas de roupa para os jantares na cantina de bancos corridos. Fazíamos as malas com dias de antecedência. Porque era grande a vontade de partir e muita a pressa de chegar. Pelo meio trocavam-se cartas com planos sobre certas coisas. Acontecimentos. Rapazes. Sonhos e ideias.
E então chegava o dia. Aquela manhã, quase de madrugada, em que nos reencontrávamos ao fim de um ano de correspondência, onde os corpos se apertavam para esmagar a saudade e a ausência. Tínhamos crescido. Mas continuávamos na mesma. Talvez crescêssemos juntos. À distância. Todos nós que ano após ano, religiosamente, marcávamos férias de pais, na mesma quinzena, para continuar a viver a ilusão de continuar o que o ano anterior tinha deixado por resolver.
Depois crescemos mais. Acabaram-se os campos de férias a centenas de quilómetros de distância de casa. As cartas escassearam e, um dia, deixaram de existir. Perderam-se rastros. Cada um seguiu o seu caminho, noutos lugares, com outras pessoas, noutros Verões. Guardei as cartas numa caixa. O livro de moradas. O das dedicatórias. As fotografias.

Passei para o Alentejo. Nas tardes quentes de Agosto encontei uma companheira de novas aventuras. Roubávamos melancias que comíamos, quentes, à sobra de uma casa caiada de branco. Bebíamos água fresca do poço do jardim à noite. Marcávamos encontros com namoricos que surgiam nas danças de bailes de aldeia. Fumámos os primeiros cigarros. Tossimos. Voltámos a repetir até parecermos senhoras a sério.

Um dia crescemos. Outra vez. E a vida mandou-a para outra cidade, já não ía a casa nas férias. E eu não quis voltar sozinha ao lugar onde fui tão feliz... :)

Na semana passada, a vida fez-me reencontrar a L. e a S. Por um feliz acaso.
A menina loirinha e gordinha das cartas é hoje uma linda mulher, orgulhosamente grávida, com o mesmo olhar de menina. É feliz. Percebe-se.
A menina franzina, pele morena e cabelo curto, ainda vive na cidade para onde partiu à tantos anos. Continua igual a si mesma. Sorriso travesso. Estouvada mas adorada.

Abri as caixas do meu passado. Que bom! Hoje têm cheiro a presente! E mais: como acasos destes são uma benção, reencontros com mais de 20 anos, sei que daqui se fará futuro.
Hoje estou feliz...

1 comentários:

ઇઉ Aralis ઇઉ disse...

A felicidade são esses momentos que perduram na nossa mente!
Obrigada pela partilha!

Bjokas
e Boa Páscoa