Ao fim de uma semana fechada em casa, confesso que a imaginação começa a falhar no que respeita a entreter uma criança que, todos os dias ao acordar, a primeira coisa que me pergunta é "Mamã, onde é que vamos hoje?".
Fazem-se colares de massa, experiências doceiras no forno, contam-se histórias, inventam-se outras mil, pintamos, colamos, recortamos. Brinca-se ao faz de conta. Acho que se faz tudo para não ler no rosto de um filho a tristeza de estar encarcerado. De não poder estar com outros meninos. Sair, correr, viver lá fora...
Faz-se tanto que, por vezes, como ontem, o tanto passa a demais. Excesso de estímulo. Demasiada energia a querer sair por todos os poros. Excitex ao máximo. Um dia inteiro sem dormir, ainda fraca pela doença, meio drogada com o Atarax. Uma correria sem sapatos, num chão deslizante, fez com que batesse com a cabeça na esquina da mesa.
Choro por breves segundos. De seguida, adormece profundamente nos meus braços. Levo-a para a cama. Estática. Sem reacção. E eu começo a rever aqueles conceitos básicos de segurança. O que fazer em caso de queda. O coração está a mil. Chamo por ela. Descalço-a e belisco-lhe os pés para que reaja. Grito mais alto. Abano. Nada...
Imóvel, a pequenina continua assim. Demasiado quieta. Demasiado alheia. As lágrimas correm-me pela cara. Tremo. Pego no telefone. O médico manda-me correr para o Hospital. Ela na cama, eu a chorar, a agradecer e a pedir desculpa pelo incómodo. O pai que chega e que entra em pânico. A avó que está aflita, do outro lado da linha.
Já nos braços do pai, à saida de casa, ela finalmente acorda. Sorri e diz que está cansada. E eu desfaço-me em novas lágrimas que me atiram para um estado estranho, um misto de alívio, de culpa, de tensão que desaba. Não consigo falar. Apetece-me ficar abraçada a ela para sempre. Choro porque está bem. Choro por aquilo que poderia ter acontecido. Choro porque sei que existem coisas que não dependem de nós e que o controlo das situações é apenas uma utopia.
Choro porque a amo demais. Porque hoje foi um susto mas amanhã pode não ser. Não será quando a vida lhe der as quedas dela. Porque existem traumatismos mais graves que os cranianos. E eu não posso evitar nada...
Amor de mãe. É lindo. E lixado...
5 comentários:
Ohhhh que cena mamy :( deve ter sido uma aflição!!mas é mesmo assim, todos nós demos quedas em pequeninos, não vai acontecer nada! ;)
um beijinho pa ti e pa lesas
Consigo imaginar o teu pânico, a tua angústia. Quando algo mexe com os nossos pequeninos é pior do que se fosse connosco! Ainda bem que tudo acabou em bem. Um beijinhos para vocês!
Uff, tiraste-me o fôlego pelo susto, mas pelas emoções que vibram em ti. Não imagino amor maior
Agora assustate-me, mammy... Ainda bem que foi só um susto!
Eu sei que a vida nos prega rasteiras e que mais cedo ou mais tarde, todas sofremos traumatismos. Mas estamos cá, não estamos? Vamos crescendo e aprendendo e de certeza que a tua fofinha, também vai conseguir superar as rasteiras da vida e ser uma grande mulher! Como a mãe dela é!
:)
Bjs!
Este amor é daqueles que deixam uma lágrima no canto do olho... um abracinho gande!
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