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terça-feira, 23 de junho de 2009

Adeus Avó...

Esta fotografia foi tirada no final de Outubro, no 2º aniversário da Ema, dois meses antes de a avó Tita completar 85 anos. Foi também a última fotografia que tirámos juntas antes que a doença lhe levasse, para sempre, a memória.

A avó Tita chamava-se, na verdade, Maria da Conceição embora toda a vida tenha sido chamada de Cristina. Contava ela que o nome verdadeiro tinha sido imposto pelo pai, que morreu novo, mas que a mãe, Rosa só de nome porque era uma mulher de pulso, contrariou os registos oficiais e sempre a tratou pelo nome desejado.

A avó Tita casou cedo. Foi a primeira de 7 irmãos. Foi mãe já "velha" para os parâmetros da altura mas teve a minha mãe. Já passara da casa dos 30. Foi a única filha biológica mas teve muitos outros. Do coração. A Lurdinhas, o Zé da Broa, o Manel. De todos foi mãe de acolhimento. Enterrou uma que chegou a perfilhar às portas da morte, tinha apenas 7 anos quando uma leucemia lhe arrancou a vida.

A avó Tita era um festival inteiro numa só pessoa. Nasceu no Beato, naqueles páteos antigos, desde cedo se habituou aos bate-bocas entre vizinhas. Falava alto e gritava ainda mais. Era capaz de levar horas numa acesa troca de insultos com a vizinha do segundo andar. Estando ela na cave...

Ia à Igreja. Para a missa e para a cusquice. Mas ajudava quem nada tinha. Dava roupas e sopas aos pobres e tinha um "amigo" toxicodependente" a quem muitas vezes abria a porta. 

Quando era pequena, e ficava doente, todas as manhãs me trazia à cama uma bola de berlim sem creme e um copo de leite. Quando fazia anos, o ritual era descermos as duas, até à Baixa, e entrar nos Porfírios para comprar a coisa mais espalhafatosa e pirosa que lá existisse. Fez questão de me vestir na primeira comunhão. Ofereceu-me o meu primeiro vestido de noiva. Por mim escondeu uma boneca que cantava, entre as pernas, quando passou a fronteira de Ceuta para Espanha. 

A avó Tita gostava de me pentear os cabelos. Foi ela quem me pôs Quitoso quando apanhei piolhos na sua horta de feijões. Foi ela quem me enxugou as muitas lágrimas da infância.

Como já disse, a avó Tita tinha muitos irmãos e irmãs. Havia um, o Zacarias, de quem gostava especialmente. Tanto que passavam as tardes a beber Martinis com torradas quando ele foi viver para casa dela, tempos anos de morrer atropelado.

"A velha é vivaça!". Passávamos o tempo a dizer-lhe isto. Contava histórias mirabolantes! Fazia-se sempre de desentendida mas todos lhe conheciam o truque. Sabia fazer rir como poucos. Até desdentada era bonita. Gostava das jantaradas e mais ainda dos copos. Wisky fazia bem ao coração. O Porto era digestivo. O vinho dava com tudo, o Martini era para começar, o Champanhe para festejar. Sempre de penalty e com um grande suspiro de satisfação.

A avó Tita não sabia ler nem escrever. Mas aprendeu a copiar as letras do nome dela. Ensinei eu, quando também me ensinavam a mim. Consumia telenovelas e gostava de mandar palpites aos actores. Discutia com a televisão. Ia votar e sabia a quem e porquê dava o voto. Tinha sempre argumento e opinião. Às vezes o marido, o "Nino" como ela lhe chamava, mandava-a calar com os disparates. E ela respondia. Como daquela vez, por ele achar o peixe demasiado salgado, ela o atirou à parede, em sinal de protesto.

O Nino partiu à 7 anos. E no dia do seu funeral, a avó Tita entrou na primeira tasca e aviou um Martini em memória da sua alma. Uma semana depois, foi escondida ao Politeama ver o "Amália" porque gostava muito do sr. La Féria que chegou a conhecer algum tempo depois, quando fez 82 anos e foi ao novo musical do encenador que lhe ofereceu os bilhetes para o dia de anos.

São muitas e boas as memórias que a avó Tita deixou a uma família inteira. Porque a avó Tita partiu no Domingo. Porque hoje a acompanhámos na última viagem terrena. Em sua memória, hoje brindarei com um Martini. Porque ela iria gostar que assim fosse.

Adeus Avó Tita...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O dia também é meu!