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sábado, 29 de março de 2008

Se eu fosse a Vitcoria Beckham...

Se eu fosse a Victoria Beckham seria TÃO mas TÃO feliz na Place Vendôme!!!
Também eu sairia do hotel mais luxoso da zona com este ar de quem está prestes a estoirar o dinheiro todo do cartão (que até aposto que não é de crédito) do marido e compraria desenfreadamente as griffes das lojas MAIS caras do mundo até à exaustão!!! Obviamente que depois de tamanho "sacrifício" teria à minha espera uma massagista para me meter os ossinhos no lugar e para me tirar a dor dos pés de tantos quilómetros percorridos a esbanjar!

Mas não, eu não sou a Posh...
Eu era aquela "miúda" que fumava à porta do Hôtel Vendôme, que atraía o olhar dos "turistas" que certamente pensavam que eu deveria ser alguém famoso para estar ali. Só não estavam era bem a ver de onde me conheciam...ou então achariam que eu tinha pinta de ser "acompanhante de luxo" de um qualquer magnata árabe do petróleo, que ainda não tinha regressado da reunião, deserto por umas boas horas de farra com uma loira de cabelos compridíssimos.

Chato...
Chato ser pelintra num sítio assim. É como sermos crianças e nos porem à frente toneladas de doces e dizerem-nos: "Ah não tens dinheiro? Então não podes comer. Ficas só a ver e quietinha".

Ele era Chanel, Dior, Dolce, Cavalli, Cartier, Armani, Fendi, Prada, Escada, Kenzo, Boucheron e afins e eu ali a babar, literalmente a largar um rasto de baba, de olhos pregados às montras com as malas, vestidos, sapatos e aneis que eu gostaria de ter e...nada! Fiquei a saber que nem o meu ordenado inteiro pagaria uma coisa de que tivesse gostado!

Na Place Vendôme apenas comprei duas coisas. Ou melhor, comi duas coisas: uma pizza do room service que custou 33 Euros, a mesma quantia que me pediram na loja dos chocolates Godiva por 2 caixas com uns míseros 10 bombons. Dá para acreditar???

A desejar ardentemente ser a Victória, num ataque de fúria incontido, fui para a avenida seguinte e vinguei-me! Ah pois foi! Entrei na GAP e deixei lá 100 Euros em roupa...para a filhota! Ui! E que feliz me senti, com 2 saquinhos azuis escuros carregados de coisinhas giras, para a pipoca se pavonear no Infantário como se fosse a filha dos Beckham!!! Isso já ninguém me tira!

Mas é chato...ser pelintra em Paris...
De resto o trabalho correu bem. Lá gramei com os efeitos de muitos anos e ácidos de uma star americana, mãe do punk-rock, que acha que é artista...ela e muitos outros.... e acho que fui uma boa embaixatriz de Portugal na conferência de Imprensa internacional, apinhada de jornalistas que lá safaram o trabalho à conta das perguntas da colega "tuga".

Aqui vos deixo alguns dos meus momentos à Paris que, apesar dos mais de 200 Euros negativos na conta e de menos 1cm de capa das minhas Luis Onofre (vulgo botas), me deixou, uma vez mais, saudades e vontade de regressar pela 13ª vez!

Final da Conferência de Imprensa: les journalistes seguem a "estrela"



Surreal! Ratos embalsamados exibidos na montra de uma loja de ratoeiras

JURO que era água!

Mas a Posh não anda de metro e por isso jamais teria o seu reflexo no vidro!

C´est combien?!? Ah deixe estar...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Vou ali a Paris e já volto!


Vou ali a Paris fazer um trabalhinho àquela ourivesariazinha chamada Cartier, tá?!?

(Modo de leitura: entoação o mais snob possível)

terça-feira, 25 de março de 2008

Planeta dos Macacos ou das Macacadas?

Acabo de perceber que Portugal não é um país.
Também não é província espanhola, como tantos julgam e outros gostariam que fosse.
Não é cauda da Europa coisa nenhuma.
Portugal é um PLANETA!!!

Somos uns seres estranhos. Gostamos de fado, da bola, de atirar piropos às gajas, de cuspir para o chão, coçar os ditos em plena conversa numa rua movimentada. Lemos revistas cor-de-rosa e sonhamos em ser assim. Gastamos o que temos e o que não temos em coisas que achamos serem fundamentais para a nossa existência. Somos campeões nos créditos fáceis e a pedir empréstimos. Gostamos de bons carros ainda que o frigiorífico possa estar vazio. As meninas põem unhas de gel. Os putos são caprichosos e só querem marcas. Não pensam, jogam PSP.

Os maridos cobiçam as mulheres alheias. Elas sonham com os Brads Pits da vida... Os saloios embebedam-se e ainda batem nas desgraçadas que passam o dia a limpar o rasto de sujeira que deixam pela casa fora. Ainda há pais que ficam lixados quando nasce uma menina e não o "pilas" que dará continuidade aos genes. Ainda há quem vá às putas perder os 3. E há quem vá regularmente porque é porco, tarado e rebarbado.

As cuscuvilheiras não desapareceram com o tempo, pelo contrário, tornaram-se mais refinadas e finas. Verdadeiras putas de luxo empenhadas em espalhar maldade gratuitamente. Temos os cabrões-mor, os aspirantes a..., os homófobos, os xenófobos e os políticos.

Ele há Apitos Dourados, falsas puritanas ex-alternadeiras muito santas e cheias de remorsos, senhores bem postos na vida que molestam criancinhas desfavorecidas, gangs que se matam, pessoas que desatam aos tiros à vida humana como se fossem aos pássaros. Há gente a dormir na rua. Todos sabem ninguém quer ver. Somos recordistas da iletracia. Temos matas que ardem todos os anos. Estamos nos tops pelas piores razões. Há gente a sustentar uma família com o ordenado mínimo e a passar fome para poder pagar a renda da casa velha cujo senhorio não quer fazer obras. Lisboa tem muitos velhos que os novos esqueceram e a cidade tem o som da solidão.

É um planeta e tanto!!!
Que, entre muitos outros problemas gritantes e estruturais, tem uma coisa chamada Governo que, para mim, é assim uma espécie de "cereja em cima do bolo".

Com tanta coisa para resolver e eles estão preocupados com a declaração dos noivos ao Fisco?
Meninas mal educadas deitam por terra a instituição que deveria ser a Educação e eles preocupados em proibir piercings e tatuagens?

Esta foi uma semana rica em acontecimentos embaraçosos para este planeta. Confesso que passei os dias estupefacta, boquiaberta, com as notícias, algumas quase anedóticas, que saíram.
Está tudo mal e ninguém quer consertar.
Daí a minha dúvida: Portugal é um planeta dos macacos ou das macacadas?

segunda-feira, 17 de março de 2008

O mal já passou!

"Vou entrar, não vou olhar para os lados, chego lá, dou-lhe um beijinho e saio logo. Não vou chorar porque agora sou eu quem tem de estar forte" jurava a mim mesma enquanto conduzia até ao IPO de Lisboa.

Passei diante daqueles muros tantas vezes e nunca me imaginei a cruzá-los. Abre-se a cancela. Porta principal. Placas a indicar o andar de todas as especialidades. Cancros a rodos, divididos por pisos, como uma grande loja onde tudo se vende.

Caminho a passos largos. Eco pelos corredores antigos, carregados de pesar, de olhos que permaneceram fiéis ao chão, que não se atraiçoaram como os meus. Os saltos no mármore. Aperto a mão do marido. Supostamente para lhe dar apoio quando era apenas eu a ganhar coragem.

Elevador pequeno. Claustofóbico. Apinhado de gente com o coração nas mãos. Sexto andar. Somos nós.

"Não é preciso dar o nome?" pergunto.
"Não, aqui é assim" responde o marido.

Eu não sei. É a primeira vez que aqui venho. Não fui eu quem passou o último meio ano à espera neste hospital. Não conheço as caras, os procedimentos, as horas intermináveis de diagnóstico. O silêncio e a cumplicidade mãe e filho trocam, através do olhar, à medida em que o veneno entra no corpo. Para matar o mau e o bom.

O mau foi tirado hoje.
"Perdeu a mama" disse-me de voz embargada ao telefone.

"Já sabes, entras, sorris, dizes um disparate, dás um beijinho e sais. Não choras!" relembrei-me mentalmente assim que entrei no quarto.
A janela com o sol a incandear quem chega. Os olhos que se viram para nós.
Cama à direita.
Um vulto que ganha forma deitado. Cabeça exposta sem peruca. Cabeça inchada. Amarelo-baça.
Fio no nariz. Verde. Mão no lugar onde antes havia um pedaço de carne que foi arrancado. Foi-se o mal. Foi-se o mal...

-"Vai para casa tomar conta da tua filha"
-"O desenho que ela lhe fez?"
-"Está em casa à minha espera"
-"Mas era para trazer! Esta parede precisa de cor!"
- "Trouxe o brinquedo dela. Dormi com ele"

Apertão no braço. Sinal de que é hora de sair. Tem que descansar. Eu acedo.
Faço o percurso de saída. Nem chego ao elevador para desabar. Em silêncio, engulo soluços e vomito lágrimas.

Ao que o corpo pode chegar! Como é que eu páro de chorar? Está tudo a olhar para mim!
E então nos olhos de quem me olha também existem lágrimas. E talvez os mesmos pensamentos. Por momentos não tive vergonha. Mas estava de mão dada à pessoa que mais precisa de mim. "És tu que tens de ser forte, lembras-te?" pensei.

"Abraça-me" pedi-lhe.
"Até logo". Olhar vazio. Desorientado.
"O mal já não existe!" digo.

"O mal já não existe! - O mal já não existe - O mal já não existe!" repito mentalmente a caminho de casa.

Se o pior já passou...porque me sinto tão triste?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Partiu o Artista Generoso

"Para a Filipa com o desejo de que lhe agrade o poema e já agora os desenhos.
Um abraço do Rogério Ribeiro"

Foi com esta dedicatória, assinada no livro de poemas de Amadeu Baptista e por ele, Rogério, ilustrado, que me despedi de um dos artistas que mais admiro. Não foi há muito tempo, passaram-se um par de meses, e foi um choque receber a notícia da sua morte.
O coração atraiçou-o. Parou. Talvez por tanto sentir.
Pegou nas palavras do poeta e tomou-as para si "Diz-me a Arte que seja generoso" e a ela tudo deu para agora a deixar órfã dos muitos mundos maravilhosos que criou.

Perdeu-se um vulto da nossa história.
Perdeu-se mais uma referência.
Perdeu-se o encanto do traço que tantos anos me fez sonhar, imaginar, reflectir.
Mas deixa um legado que viverá muitos e longos anos.
Onde quer que esteja, a Alma de Rogério Ribeiro, será sempre imortal.

Esta é a modesta homenagem de uma rapariga que se sentiu muito pequenina perante um ser tão GRANDE, que pôs de lado o estatuto de "grande artista" que era (e é), para conversar comigo sobre a sua vida e obra. Entrei cheia de medo de parecer ridícula, saí feliz, de alma cheia por ter aprendido, por ter recebido um bocadinho ínfimo da imensa GENEROSIDADE DO ARTISTA...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Ah desculpe!

Bem...a foto não é do dia mas a pose é sempre a mesma. A do repórter de imagem.
No género de trabalho que fazemos, geralmente a postura é estática. Imóvel, a ver as imagens dos outros através de uma lente. Raramente se fala porque eles têm de estar concentrados, especialmente se os tripés forem uma caca ou se a mão está numa de os atraiçoar naquele dia.

Hoje: 11:30 da manhã, mais coisa menos coisa.
Local: CCB - Museu Berardo
Motivo: Exposição "Por uma vida melhor" que, desde já, recomendo.

O David na última sala, mais ou menos a um canto, a gravar a série (a meu ver) mais interessante das fotografias.
Eu, no corredor, de auscultadores postos, muito atenta aos depoimentos dos portugueses imigrados em França, nesse movimento que ficou conhecido para a História como "O Salto".

A figura do senhor nortenho é subitamente tomada de assalto pelo reflexo de dois vultos, histéricos, de riso estridente. Olho, sem perceber, e quando estava prestes a voltar ao relato de uma vida passada num bairro de lata, nos arredores de Paris da década de 40, dou de caras com o David a rir meio atónito.

Ok...estávamos num museu de arte contemporânea. Até posso ver a coisa pelo lado da suposta inexistência de limites da criação artística mas isto foi demais! Dá para acreditar que um casal que visitava a exposição pensou que o David "um boneco" (como assim lhe explicaram) e vai daí a senhora tocou nele para avaliar o realismo da "obra"?!?

Por amor da Santa!!!
Como dizia, a Arte pode até não ter limites....mas a estupidez das pessoas deveria, não acham?

quinta-feira, 6 de março de 2008

Como as palhas de um cesto


"Sempre que saio do Hospital, olho o mundo como se fosse a primeira vez." dizia ela, naquele jeito de sempre, mas num corpo marcado pela luta pela sobrevivência. Cara deformada. Chapéu na cabeça. Magra como nunca. O corpo, irreconhecível, apenas a aguentar-se graças à força e fé inabaláveis de quem se sabe capaz de sair vencedora da mais dura batalha da vida. Não é por acaso que sempre te descrevemos como uma força da natureza. "Tsunami" foi e É a alcunha perfeita.

Depois de meses sem a ver, ali estava eu sentada diante dela. Rodeada de olhares de comoção. Sentimento de pena por quem tem uma vida pela frente e não a pode viver. Acabada de casar. Atirada para uma cama de hospital. Clausura forçada. A vida lá fora. Em suspenso.

Ouvi relatos inimagináveis. Mas o desabafo "quando saio e vejo uma nuvem fico como uma parvinha. Olha uma nuvemmmmm!!!" não me saia da cabeça. Chocou-me mais do que as descrições dos catéteres que trazes debaixo da roupa. Das biópisias óseas, dos longos dias alimentados a quimioterapia.

As nuvens. As nuvens e tudo o que sentias falta, as coisas que estão diante dos olhos e que, por falta de tempo ou de vontade, nem apreciamos. Tornam-se paisagem. Lugar-comum. Esquecemos o valor que têm e as infinitas alegrias que nos dão gratuitamente. Se as olharmos.

Procurei no teu olhar o reflexo das tuas saudades. E foi nele que encontrei a forma de te levar o "Remédio para os dias difíceis". Juntei as meninas. As tuas meninas. As nossas meninas. Somos todas umas das outras. Para o bem e para o mal. Como num casamento. Como os deveres morais que temos para com a nossa família. Porque, de certa forma, somos irmãs.

Esticámos a hora de almoço, de handicam em punho, e fomos mostrar-te a vida que não podes ver. O mar. As nuvens. A falta que nos fazes e o que fazemos por ti. Levar-te sorrisos.

Em Carcavelos, quem por ali passasse, certamente perguntar-se-ía se seria para os apanhados. 8 malucas aos pulos e berros, de mãos a abanar, a cantar as músicas mais foleiras que podem existir. De saltos altos nas rochas a fazer palhaçadas, em fila a cantar descompassadamente. E claro, esse grande ex-líbris do grupo, as graçolas com as mamas de uma ou com o rabo da outra.

Metemos tudo num dvd. Entregámo-lo ontem. Numa festa de aniversário à qual nunca imaginávamos que irias. Mas apareceste de surpresa. Foste a melhor prenda de todas e para todas. Dia 5 de Fevereiro fizémos todas anos. E foi o momento ideal para te entregar o que preparámos para ti.

Silêncio. Dei-te a mão. Alguém se aninhou aos teus pés e repousou a cabeça no teu colo. Todas ao teu redor. Unidas naquele momento só nosso. Caíram lágrimas. Mas a emoção não é motivo de vergonha. Naquele momento não havia lugar para as farsas quotidianas. Deixámos cair as máscaras, baixámos as defesas. Chorar faz bem. Ainda mais se cada lágrima representa um sentimento de amor, fraternidade, amizade.

Confesso que, por mais anos que passem, nunca me irei esquecer da tarde de ontem. Estamos juntas muitas vezes mas esta foi a mais verdadeira de todas. Esquecem-se as tricas, as merdinhas, o bom e o mau. Não se pensa. Sente-se. Fomos todas e uma só. Como palhas entrançadas num cesto. Cada uma a precisar da outra para fazer sentido.

Com o coração cheio e calmo por sabermos que estás bem. Que vais ficar ainda melhor. Que em breve voltas para nós. E que um dia, daqui a muito tempo, vamos voltar a sentar-nos numa qualquer sala de estar e voltarmos a ver o mesmo dvd e achar tudo muito piroso, muito anedótico, descabido. Voltaremos às preocupações corriqueiras do " Fogo! Estava cá um batoque!" ou "Olha a TAL tão magrinha e agora está aqui, barriguda, prestes a dar à luz!".

Que bom será chegar a esse dia.

Que bom será ver-te recuperada com essa tua força de viver mais aguçada que nunca.

Que bom é termos-te por perto e fazermos de ti um exemplo a seguir.

Percebermos que a adversidade pode tornar-nos pessoas melhores .

Como as palhas de um cesto...permaneceremos unidas para sempre!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Alentejo

Perdi a conta às vezes que olhei para o caminho. Que olhei com olhos de ver. Sei de cor todas as curvas, o nome das aldeias que atravessamos, a cor das casas de que gosto até chegar ao destino.
Guardei os cheiros dos campos de Março. Sei que daqui a dois meses os lírios vão nascer junto às florezinhas amarelas. Que é tempo de as cegonhas se reunirem nos ninhos e ali entardecerem juntas.

Sei que os dias já estão maiores e que é época de fartura de pesca nas barragens que espreitam a estrada. Que achegã é bom se for grelhado e acompanhado com molho de manteiga.

Apesar de já há muito aqui não vir, calculo (e não me engano) que o declive da estrada, depois daquela curva, ainda lá deve estar. Que mais à frente o alcatrão encolhe para "voar" por cima de uma ribeira, em forma de ponte, onde, há muitos anos atrás, era bom nadar nas tardes de Verão.

Conheço cada quilómetro de cor. E raramente me lembro da beleza que todos me oferecem. Os 120 que hoje paracem tão curtos, antigamente tão longos. Mas está tudo na mesma. Quem mudou fui eu.

Hoje não há a pressa de chegar. O coração não está em alvoroço com o pensamento do beijo prometido para aquele fim de semana, às 9 da noite, junto ao coreto do jardim. Ainda há amigos por visitar mas poucas afinidades. Apenas as memórias queridas de uma infância traquina, passada a roubar melões e laranjas ou a bater às portas das velhas beatas e desatar a correr rua abaixo.

Sem a impaciência do passado ("Ó pai, não dá para ir mais depressa?") regresso ao fim de alguns anos. De menina a mulher. Casada. Com uma filha. Mais gordita, dizem, mas com os mesmos olhos! "Vê-se mesmo que és filha de tê pai e neta de tê avô! E a menina tem os nossos traços!", reclamam os tios idosos. Reclamam as origens da família. "Genes fortes! É o que é!".

Chego e não fujo para junto dos "meus" de outrora. Porque o tempo se encarregou de nos afastar. Porque quem aqui nasceu partiu para as grandes cidades. Dou por mim sentada à porta da casa de sempre. Sol morno na pele. Reparo que não há barulho. Não se ouve nada. Nem carros, nem gente, nem nada. Gosto do pensamento mas a verdade é que o ruído faz-me falta. Começo a ficar incomodada.

A pequenina corre estada fora. Sigo-a com o olhar mas não me mexo. Sei que não vai passar ninguém. E se acontecer, sei que terei muito tempo porque o som chegará muito antes que o carro. Olho para ela, eufórica, e sorrio. Hoje o dia é dela. Hoje a vila é dela. Como já foi minha.

Sei que acabo de oferecer mais uma raiz à minha filha. Este lugar passou a ser dela também. E terá muitos anos para aqui vir e viver o que eu vivi. Um dia será ela a pedir-me que acelere. Que desaparecerá na festa do Santo padroeiro. Que marcará o primeiro beijo no coreto do jardim. Será? Não sei. Quero pensar que sim...

Entretanto, aninho-me em mim, ao sol do entardecer, e deixo-me ficar enleada em lembranças, com as gargalhadas da pequenina que herdou os genes alentejanos, que veio quebrar o silêncio da rua com o som mais bonito do mundo. :)